"As mudanças sucedem-se devagar. Primeiro, o mostrador muda de cor, passando do branco ao cinzento, e em seguida há nuvens que o atravessam a flutuar, desaparecendo ao chegar ao lado oposto.
Ao mesmo tempo, partes do corpo do relógio expandem-se e contraem-se como as peças de um puzzle. Como se o relógio se fosse desfazendo, lenta e graciosamente.
Tudo isto leva horas.
O mostrador do relógio adquire um tom de cinzento mais escuro, depois passa a preto, com estrelas a cintilar nos pontos onde estavam os números anteriormente. O corpo do relógio, que tem estado a virar-se do avesso e a dilatar-se metodicamente, é um completo matizado de brancos e cinzentos suaves, neste momento. E o relógio não tem só peças, tem também figuras e objetos, flores e planetas num talhe perfeito, e livros em miniatura com páginas de papel a sério que se viram. Há um dragão prateado enroscado em parte do mecanismo agora visível, uma pequena princesa numa torre esculpida que deambula angustiada à espera de um príncipe ausente. Bules que enchem chávenas de chá e ondas de vapor minúsculas que se elevam a partir delas a cada tiquetaque dos segundos. Presentes que se desembrulham do seu papel. Gatos pequenos a perseguir cães pequenos. Um jogo de xadrez executado do princípio ao fim."
- Erin Morgenstern, "O Circo Dos Sonhos"
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